Rafael Prieto é director-geral da Peugeot numa zona que inclui Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Turquia. Diz que as marcas automóveis vão ter de se reconverter rapidamente a novas tecnologias, perante a possibilidade de um novo choque petrolífero. E pede a Portugal que também incentive a aquisição de veículos híbridos, à semelhança do que sucede com os eléctricos:
O futuro é o carro eléctrico?
Não acredito muito em grandes revoluções. Mas é muito provável que os cenários elaborados de que, em 2015, cinco por cento dos carros vendidos na Europa seriam eléctricos e que outros dez por cento seriam híbridos se multipliquem por dois. No que respeita ao grupo PSA, e em concreto à Peugeot, não temos medo de enfrentar desafios quer no carro eléctrico, quer nos veículos híbridos, nos biocarburantes ou na eficiência dos motores actuais. A tecnologia de stop & start, mecanismo a que chamamos micro-hibridação, é um exemplo.
Mas um carro eléctrico acaba por ser ainda mais eficiente e é adequado para as cidades.
Quando perguntamos a alguém se quer ser pobre ou rico, todos querem ser ricos. A solução dos máximos é sempre a melhor, mas há um percurso intermédio para lá chegar. O carro eléctrico ainda não chegou à tecnologia e ao controlo dos custos de forma a ser acessível a uma grande quantidade de gente. Ainda não ultrapassámos aquilo que os especialistas consideram o nível de autonomia necessário para passar ao consumo mais generalizado, acima dos 150 quilómetros. Acho que ainda falta uma geração de tecnologia, que é capaz de chegar em três ou quatro anos.
E o facto de haver agora uma crise económica, como é que a indústria pode lidar com isso?
Temos uma responsabilidade: comunicar mais com os governos para tentarmos demonstrar o que sabemos fazer, e os governos criarem os incentivos fiscais para fazer com que tudo isso chegue mais rapidamente.
Mas que acabaram agora...
Os incentivos fiscais até à data tinham mais a ver com a recuperação da procura e do crescimento económico do que o desenvolvimento de novas tecnologias. Acho que quaisquer novos incentivos fiscais terão de ter mais a ver com acelerar a chegada de novas tecnologias.
Em Portugal, por exemplo, há incentivo à aquisição de carros eléctricos.
Acontece o mesmo em Espanha. Não posso mais do que aplaudir e agradecer àqueles governos que apostam em inovar, mas acho que falta criar os mecanismos intermédios. Não é normal incentivar muito o carro eléctrico e não incentivar nada um carro híbrido, quando um carro híbrido é uma solução que permite à indústria investir, porque não é mais do que uma fase intermédia de um carro eléctrico. Num carro híbrido, conseguimos aperfeiçoar a tecnologia dos eléctricos e a tecnologia dos térmicos, porque é uma plataforma de investimento que permite optimizar as duas. Se um Governo tem vocação para impulsionar o carro eléctrico, a melhor forma é apoiar todas as tecnologias intermédias que consigam mudar a mentalidade dos consumidores.
De que forma?
A ajuda para um carro eléctrico em Portugal é de cerca de 5000 euros, mais o incentivo ao abate. Por exemplo, um carro híbrido ter metade do valor do carro eléctrico seria uma forma de facilitar que uma grande parte da clientela começasse já a mudar a sua forma de consumo. E as tecnologias de que estamos a falar, a micro-hibridação, se calhar 500 ou 600 euros de vantagem fiscal para incentivar a chegada destas novas tecnologias criariam uma movimentação que levaria a mentalidade do consumidor a ir para onde queremos.
Fonte: Público